terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Açores: Quem somos, porque somos

Este não é apenas mais um livro que aparece nos escaparates das Livrarias. É, acima de tudo, um estudo que estava em falta no nosso meio insular.
As Autoras vêm ambas do campo da docência. Nunca se contentaram, porém, com o «já chega; não preciso de mais»! Até ao fim, lutaram para serem melhores; ajudaram outros e outras a prepararem-se para responder aos desafios dos tempos que correm.
Nada mais natural, por isso, do que sonharem passar o testemunho à maneira de um testamento cultural. E lançaram-se a fazer o que deviam: contar a História da sua e nossa Terra do modo mais completo possível e com tal simplicidade que todos, até os mais novinhos que lhes passaram pelas mãos, a pudessem entender.
E vai daí, iniciam a Viagem lá muito longe, quando Portugal era ainda apenas um sonho. E levam-nos a nós, leitores-estudiosos, a andar numa roda viva, até chegarem com as naus e barcaças às ilhas desertas dos Açores.
São peripécias, são calamidades de vulcões, são assaltos de piratas... De tudo quanto aconteceu, as Autoras nos aproximam, dando-nos a mão da compreensão dos factos. Nada lhes escapou em cada uma das nove ilhas, desde o Mar até aos cumes das Montanhas. Sobem aos altos picos e descobrem lagoas de água fresca; descem às cavernas e ouvem, como resposta às suas questões, o eco dos tempos velhos que se repetem indefinidamente.
Vão-nos colocando, quase sem custo, a par das vidas vividas de todas as pessoas e suas classes: dos que mandavam, dos assalariados, dos que rezavam, como também dos que cuidavam dos doentes. As glórias são cantadas e as derrotas não são camufladas. Aqui se contam as vidas como elas eram!
De Oriente para Ocidente! São quinhentos anos de Vida guardados nestas páginas... De Santa Maria ao Corvo, sem esquecer nenhuma das outras; ninguém ficou de fora do jogo.
Mas a vida dos Açorianos não acaba com a última ilha, a Ocidente, o Corvo. Se lhe saiu em sorte ser a mais pequena, coube-lhe também ser a guardiã do Futuro. Nela pintaram os deuses, em fina tela de água, a imagem de cada uma das outras irmãs que habitam no mar e o mítico escultor levantou, na sua rocha queimada, a figura destemida do Cavaleiro andante que guarda o tesouro ilhéu, mas igualmente rasga novos caminhos para lá do horizonte. E ele ali ficou, na lenda, como símbolo do futuro destas ilhas-aves. Os Açorianos bem cedo ouviram o seu chamamento mágico e partiram, de novo, sempre para Ocidente e foram semear, no suor a nas lágrimas da ausência, novas aldeias, vilas e cidades com as cores, a vida e os costumes dos seus Antepassados. E conquistaram o Canadá, a América do Norte, o Brasil, acendendo por toda a parte o mesmo lume que levaram das ilhas. E, por causa dessa ousadia, somos, hoje, muito maiores do que poderia deixar de imaginar a nossa pequenez territorial e humana. O sonho, que tudo transforma, fez-nos à sua medida!
Este belo livro conta tudo isto e muito mais. Valeu a pena ele aparecer. Obrigado às Autoras Dra. Orísia Melo e Dra. Conceição Reis Melo Cabral.
Dr. Miguel Silva

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