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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Graciete Nogueira Batalha

Graciete Nogueira Batalha nasceu em Leiria no primeiro ano do segundo quartel do século XX, 1925.
Aluna brilhante de 20 valores, como afirma Celina Veiga de Oliveira (Licenciada em História pela Faculdade de letras da Universidade de Coimbra), Graciete Batalha consagrou a sua carreira profissional como professora de Português no Liceu de Macau (antigo território português, actualmente China, desde 1999).
Graciete Nogueira Batalha, talvez por trabalhar no continente Asiático, praticamente do outro lado do mundo, sempre se dedicou ao ensino da Língua Portuguesa de forma exemplar.
Celina Veiga de Oliveira viveu em Macau entre 1980 a 1999 onde foi professora no Liceu e no Instituto Politécnico daquele Território, descreve Graciete Nogueira Batalha como “filóloga, pedagoga e escritora, Graciete Batalha era uma pessoa directa e de convicções firmes, que teve uma assinalável intervenção cívica. A sua voz era ouvida com atenção e respeito, mesmo pelo Governador”.
Essa convicção e forma directa esteve bem reflectida numa exposição fotobiográfica e documental sobre Graciete Nogueira Batalha, em 1995, promovida pelo Instituto Cultural de Macau (Biblioteca Central de Macau), integrada nas comemorações do 1.º Centenário da Biblioteca Central de Macau (1895-1995), através de um documento reproduzido que sublinhava o seguinte: “Poucos dias antes do 25 de Abril, foi aprovado oficialmente um voto de apoio à política ultramarina de Marcello Caetano. Mal se dá o golpe militar, o mesmo órgão enviou de imediato um telegrama de adesão ao programa da Junta de Salvação Nacional. Ambas as declarações de apoio foram subscritas pelas mesmas pessoas, com excepção de Graciete Nogueira Batalha, professora de Português no Liceu de Macau e que não esteve para fazer essa triste figura: tendo votado pelo apoio a Marcello”.
Graciete Nogueira Batalha deixou diversas obras de investigação e trabalhos científicos, com especiais trabalhos sobre o estudo etimológico do dialecto de Macau (o Patuá). Das diversas obras publicadas destacam-se: “Língua de Macau: o que foi e o que é. Macau: Centro de Informação e Turismo” (1974); “Glossário do dialecto macaense: notas linguísticas, etnográficas, e folclóricas” (1977); "Situação e perspectivas do português e dos crioulos de origem portuguesa na Ásia Oriental (Macau, Hong Kong, Singapura, Indonésia)" (1985); “Poesia Tradicional de Macau” (1988) e “Bom dia, s'tora: diário duma professora em Macau” (1991). Este último, editado pelo Instituto Cultural de Macau.
Graciete Nogueira Batalha faleceu em 1992.
Monsenhor Manuel Teixeira, na sua coluna “Grãozinhos de Bom Senso” que publicava no Jornal Tribuna de Macau, descreveu Graciete Batalha, aquando do seu falecimento, em 1992, dizendo que “com a morte da Dra. Graciete Nogueira Batalha, esta terra perdeu alguém que amava Macau, conhecia Macau, vivia para Macau, trabalhava por Macau e honrou Macau”.
Adélio Amaro

António Pereira Campos

António Pereira Campos nasceu em Leiria no dia 29 de Maio de 1922.
É na sua cidade natal que integra o Grupo Dramático Miguel Leitão enquanto profissionalmente é funcionário administrativo da Escola Industrial de Leiria.
Em 1961, com uma bolsa atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian, António Campos parte para Londres.
De regresso a Portugal, vem a trabalhar na Fundação Calouste Gulbenkian de 1970 a 1977.
Com grande dedicação ao teatro amador, este ilustre leiriense dedicou toda a sua via ao Teatro e ao Cinema. Participou no Festival de Cinema do Século XX em Carcóvia, na Polónia. Foi correspondente em Portugal da Federação Internacional dos Filmes Sobre Arte e membro da União Internacional dos Cineastas Independentes.
Antes de trabalhar na Fundação Calouste Gulbenkian, António Campos foi assistente de Paulo Rocha (Presidente do Centro Português de Cinema e Adido Cultural em Tóquio) na realização de “Mudar de Vida”, em 1966.
António Pereira Campos sempre se intitulou como cineasta independente. Estudou o filme etnográfico de forma antropológica, sem ligar a fins científicos, em película de 16 mm, usando a chamada técnica do cinema directo.
Esse conceito de antropologia visual, aplicado ao cinema, foi também usado por outros cineastas. João César Monteiro e António Reis usaram-no na ficção e Ricardo Costa e Pedro Costa no documentário.
Na década de 70, século XX, António Campos entra no circuito comercial com a realização de vários filmes de ficção, em película de 35 mm, onde o conteúdo etnográfico está quase sempre patente. Desta forma, “Gente da Praia da Vieira”, 1976, é uma das primeiras docuficções do cinema português, onde a ficção se une ao documentário, assim como “Trás-os-Montes”, de António Reis e Margarida Cordeiro e o “Mau Tempo, Marés e Mudança”, de Ricardo Costa.
“Gente da Praia da Vieira” é um documentário de longa-metragem e uma verdadeira incursão de António Campos na antropologia visual, que ilustra a vida dos pescadores daquela praia.
António Campos deixa-se influenciar pelo entusiasmo das máquinas (câmaras) de filmar que começam a invadir o mercado em plena década de 50. A sua sensibilidade para etnografia e para o estudo das comunidades faz de António Campos um cineasta que desenvolve o documentário / ficção, mostrando, através das suas filmagens, realidades sociais de determinados grupos da população.
António Campos fez imensos trabalhos de longas, médias e curtas-metragens, desde 1957, com “O Rio Liz”, a 1993 com “A Tremoia de Cristal” que não chegou a concluir. Destacam-se ainda, além dos referidos, o filme “Vilarinho das Furnas” (1971), “Leiria 61” (1961), “Retratos das margens do rio Liz” (1965) e “À descoberta de Leiria” (1987).
António Pereira Campos deixou de realizar o filme da sua vida a 8 de Março de 1999, na Figueira da Foz.
Adélio Amaro

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete

Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete nasceu na cidade de Leiria em 26 de Abril de 1883. Filho de Joaquim de Oliveira Zúquete (nasceu a 25 de Julho de 1858 e faleceu a 5 de Abril de 1921) e de Claudina Veríssimo de Azevedo Zúquete (nasceu a 26 de Fevereiro de 1862 e faleceu a 14 de Abril de 1923). Neto paterno de António de Oliveira Zúquete e de Maria de Jesus de Oliveira Zúquete. Neto materno de Inácio Aires de Azevedo e de Luísa Veríssimo de Azevedo.
Casou em 18 de Dezembro de 1907, na Sé de Leiria, com Ester Martins (nasceu na freguesia de Marrazes em 5 de Dezembro de 1889 e faleceu a 9 de Janeiro de 1945). Do casamento nasceram quatro filhos: Afonso Eduardo Martins Zúquete (1909); Maria Yolanda Martins d’Azevedo Zúquete (1910); Maria Eva Martins d’Azevedo Zúquete (1911) e Alberto Martins d’Azevedo Zúquete (1914).
Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete formou-se em Filosofia pela Universidade de Coimbra, em 1903. Possuía, ainda, os cursos do Magistério Secundário (Secção de Ciências) e o de Química da Escola Brotero. Mais tarde, veio a concluir o curso de Engenharia Civil, no Porto (cidade onde veio a nascer o seu filho Afonso Eduardo Martins Zúquete, uma das figuras mais ilustres da cidade de Leiria).
Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete foi assistente na Faculdade de Ciências do Porto, regressando a Leiria em 1915, como professor do Liceu e funcionário da Secção Hidráulica do Mondego, cargo que viria a abandonar para exercer as funções de Director das Obras Públicas do Distrito de Leiria.
Dedicado e preocupado com os interesses culturais, sociais e históricos da cidade leiriense, foi um dos fundadores da “Liga dos Amigos do Castelo” e exerceu, também, o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Leiria, tendo a sua presidência sido designada a 16 de Janeiro de 1918. Era vice-presidente José Ricardo dos Santos Ramos Belo. Como Vogais estavam figuras bem conhecidas da sociedade leiriense: Narciso Casimiro da Costa; Veríssimo Carreira Poças; Manuel da Costa Boavida; Fernando Francisco Correia, Joaquim José de Sousa, José Saraiva e José Duarte Ferreira Júnior. Era escrivão Joaquim da Cunha Oliveira. A 14 de Abril, do mesmo ano, foi pedida, pela comissão que presidia aos destinos da Autarquia, a exoneração que o Governador Civil não concedeu. A 5 de Setembro foi repetido o pedido e a nova Comissão tomou posse a 16 de Novembro de 1918.
Homem sempre muito activo e reconhecido pelas suas capacidades, Afonso Veríssimo de Azevedo Zúquete foi, ainda, Chefe da Repartição Central do Ministério do Comércio e Comunicações. Após a criação da Junta Autónoma de Estradas foi nomeado para ocupar a função de Secretário daquela instituição e mais tarde a de Director dos Serviços de Conservação. Este ilustre leiriense fez, também, parte do Conselho Nacional de Turismo, do Conselho Superior de Viação, entre outros.
A estrada da sua vida terminou a 26 de Fevereiro de 1936 no dia de aniversário de sua mãe.
Adélio Amaro

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Joaquim Augusto Mousinho de Albuquerque

Joaquim Augusto Mousinho de Albuquerque nasceu na Quinta da Várzea, actualmente concelho da Batalha, a 11 de Novembro de 1855. Era filho de José Diogo de Mascarenhas Mousinho de Albuquerque (director dos telégrafos e faróis do reino) e de Maria Emília Pereira da Silva Bourbon. Era neto de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque, que participou nas lutas civis de 1828 a 1846.
Com apenas 16 anos de idade, Mousinho de Albuquerque assentou praça em Cavalaria em 23 de Novembro de 1871. Matriculou-se na Escola Politécnica e mais tarde na Escola do Exército, seguindo o curso de Cavalaria, sendo promovido a Alferes em 27 de Dezembro de 1876. Serviu nos Regimentos de Cavalaria e alcançou o posto de Tenente em 31 de Outubro de 1884 e o de Capitão em 12 de Setembro de 1890.
Veio a inscreveu-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra que frequentou até ao 3.º ano.
Em 1895 foi nomeado comandante da força expedicionária de Cavalaria a Moçambique e promovido a Major em 28 de Dezembro do mesmo ano. Ali, “seguiram-se as gloriosas façanhas das nossas tropas, e Mousinho de Albuquerque, sempre no seu posto, com o sangue frio dos valentes militares, acompanhou os acontecimentos, prestando o seu valioso concurso em todas as acções. Estava, porém, reservado ao valente militar um acto de grande heroísmo, que o tornaria bem conhecido e respeitado”, como descreve o “Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico”, Volume I, a páginas 137 e 138.
Dois anos mais tarde, em 15 de Dezembro de 1897, Mousinho de Albuquerque regressa à Metrópole, trazendo consigo os prisioneiros de Chaimite, sendo recebido, em Lisboa, de uma forma extraordinária.
Na Sociedade de Geografia, na Sala de Portugal, Mousinho de Albuquerque recebe, em sessão solene, as Medalhas de Ouro de Valor Militar e de Serviços Relevantes no Ultramar. Nesta cerimónia discursaram o rei D. Carlos e o Conselheiro Dias Costa.
Mousinho acaba por ser nomeado ajudante de campo do rei D. Carlos e aio do príncipe D. Luís Filipe numa digressão as províncias do norte do país.
Joaquim Augusto Mousinho de Albuquerque recebeu imensas medalhas de valor militar onde se destacam a Gran-Cruz de Torre e Espada e Comendador da Ordem de Aviz.
Todavia, o seu reconhecimento não foi registado apenas em Portugal. Mousinho de Albuquerque foi agraciado com a Águia Vermelha, da Alemanha, Comendas de S. Maurício e S. Lázaro, da Itália, Lopoldo II, da Bélgica, Carlos III, da Espanha, Legião de Honra, da França e o grau de Cavaleiro da Ordem de S. Jorge, da Inglaterra.
Mousinho de Albuquerque dedicou muito do seu tempo à escrita, deixando vários trabalhos como é exemplo “O Exercito nas Colonias Orientais”.
Sentindo grande saudade de África e não concordando com a política de então, Mousinho de Albuquerque entendeu fechar o livro da sua vida terrena a 8 de Janeiro de 1902, suicidando-se a caminho de Benfica, Lisboa.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Adriano de Sousa Lopes

Adriano de Sousa Lopes nasceu na freguesia de Pousos, concelho de Leiria, a 13 de Fevereiro de 1879. Filho de Luís da Costa e Sousa (natural de Rebolaria, Batalha) e de Júlia do Carmo (natural de Vidigal, Pousos). Neto paterno de Inácio da Costa e Sousa e de Joana da Conceição. Neto materno de José Luís Carlos e de Inácia Claudina.
A sua vida profissional iniciou-a como ajudante de farmácia, em Alcobaça.
Contudo, com grande talento para o desenho e para a pintura, Sousa Lopes, com o incentivo de várias figuras leirienses que lhe reconheciam tal arte, como Afonso Lopes Vieira, foi estudar para a Academia de Belas Artes, em Lisboa, no ano de 1898, com 19 anos, onde foi aluno de Veloso Salgado (pintura) e de Luciano Freire (desenho).
Sousa Lopes procurou beber informação artística além fronteiras. Dessa forma, concorreu para pensionista no estrangeiro e obteve o primeiro lugar, partindo, em 1903, para Paris, França. Naquele país, frequentou a École Nationale des Beaux-Arts e a Académie Julian, onde estudaram, por exemplo, artistas como Pierre Bonnard e Edouard Vuillard.
Aquele ilustre leiriense formou-se com Fernand Cormon, pintor académico consagrado pela sua pintura histórica.
Ainda em Paris, Sousa Lopes expõe no Salon d’Automme de 1904 a 1906, 1908, 1909 e 1912. Três anos mais tarde é organizador da Secção de Belas Artes do Pavilhão Português na Exposição Internacional Panamá-Pacífico, cuja organização foi em São Francisco (Califórnia) nos Estados Unidos da América.
A sua primeira exposição individual, já na capital portuguesa, tem lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1917. Ainda nesse ano, parte a Primeira Guerra Mundial como oficial artista com o posto de capitão. Foi o único pintor a acompanhar o Corpo Expedicionário Português.
Sousa Lopes, principalmente até 1927, viajou pela Europa e pelo Norte de África, passando grandes temporadas em França e Portugal. Nesse ano, volta a expor e foi nomeado director do Museu de Arte Contemporânea (designado por Columbano Bordalo Pinheiro).
Este Leiriense começava a viver o ponto alto da sua carreira, no aspecto de reconhecimento e valor artístico. Em 1932 é eleito vogal da Academia Nacional de Belas Artes e nessa década recebe várias encomendas onde se destacam as pinturas decorativas para o Salão Nobre da Assembleia Nacional e para o Museu Militar de Lisboa.
Adriano de Sousa Lopes colaborou diversas vezes com grandes projectos onde se destacam algumas exposições históricas e comemorativas como “Arte Portuguesa da Época das Grandes Descobertas ao século XX”, em Paris (1931) e “Primitivos Portugueses”, em Lisboa (1940).
Sousa Lopes deixou imensos trabalhos espalhados pelos diversos países por onde passou. Bebeu da cultura francesa (Paris) e da cultura italiana (Veneza e Roma), dando-lhe conhecimentos para desenvolver a sua arte. O Museu de Arte Contemporânea possui trabalhos muito interessantes de Sousa Lopes em homenagem ao seu papel como director mas, principalmente, à sua importância como artista e homem da grande causa cultural.
Adriano de Sousa Lopes faleceu em Lisboa a 21 de Abril de 1944.
Adélio Amaro

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Lino António

Lino António da Conceição nasceu em Leiria, a 26 de Novembro de 1898. Filho de Lino António da Conceição e de Maria do Carmo Pereira Dias da Conceição. Casou com Maria Helena de Noronha Tudela.
Frequentou Belas Artes no Porto e em Lisboa. A sua primeira exposição teve lugar na cidade que o viu nascer, sendo inaugurada em 1918. Seis anos mais tarde expôs na Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa e no ano seguinte (1925) faz parte do I Salão de Outono expondo, ainda, na Exposição Ibero-Americana de Sevilha onde obtém medalhas de honra (1929).
Já com diversos contactos no mundo da Arte, Lino António avança com a sua actividade, procurando, sempre, os melhores locais para mostrar os seus trabalhos e frutos da qualidade dos mesmos surgem diversos convites. Na década de 30, do século XX, participou no I e II Salão dos Independentes, na Exposição Colonial de Paris, no Salão de Inverno de 1932 e na Exposição do Secretariado Nacional de Informação.
Lino António, durante a sua vida, participou e realizou diversas exposições e ganhou várias medalhas.
No entanto, é no ano de 1938 que Lino António vê o seu trabalho, verdadeiramente, reconhecido. Assim, em 1938 realiza o conhecido friso para a sala do Presidente da Assembleia Nacional (actual Assembleia da República), pinta os frescos do arco triunfal e da varanda do coro da Igreja de Nossa Senhora de Fátima e ilustra o livro “Amadis” do conhecido poeta leiriense Afonso Lopes Vieira. No ano seguinte, faz o mesmo para “La Jeunesse Portugaise à l'École” de António Mattoso. Em 1943 faz gravuras para o livro “Vida de Jesus” de Plínio Salgado e nesse mesmo ano ganha o prémio Rocha Cabral.
Todavia, corria o ano de 1940 quando Lino António, além de participar na Exposição do Mundo Português, é admitido como professor na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa. Quatro anos mais tarde, expõe no Secretariado da Propaganda Nacional. Em 1945 e 1946, respectivamente, deixa o seu artístico cunho nos vitrais da Casa do Douro e nos vitrais da Capela do Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.
Em 1949, Lino António pediu ao Ministro da Educação Nacional, através de uma missiva, a realização de provas que lhe permitissem terminar o Curso Superior de Pintura. A 15 de Julho do mesmo ano o artista leiriense obtém a desejada Carta de Curso
Lino António, depois de 1949, recebe várias encomendas e deixa a sua marca nos frescos e vitrais do Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira assim como na Câmara Municipal da Covilhã, pinta os frescos da capela mor da Igreja de Santo Eugénio no Bairro da Encarnação, executa painéis de cerâmica para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, para o Pavilhão do Corpo de Alunos do Colégio Militar assim como para o Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
O ilustre leiriense é, também, autor da Tapeçaria “Olisipo”, realizada para o Hotel Ritz (Lisboa), dos vitrais do pórtico da Aula Magna, dos frescos do átrio principal da Biblioteca Nacional e dos vitrais do Tribunal de Seia. Lino António deixou muitos outros trabalhos. Por limite de idade, em 1968, aposenta-se e deixa de dirigir a Escola António Arroio.
A 23 de Outubro de 1974, em Lisboa, vítima de um acidente vascular, Lino António deixa o mundo dos vivos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Entrevista a Luís Filipe Borges

Luís Filipe Borges, depois dos programas “Revolta dos pastéis de nata” e “Sempre em pé” é, agora, um dos apresentadores do programa da RTP2 “5 para a Meia-Noite”. Natural de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. Licenciou-se em Direito e a sua paixão pelas boinas levou-o a assumir a alcunha de “'Boinas”. Estivemos com o Boinas nos estúdios do “5 para a Meia-Noite” onde aproveitámos para lhe lançar algumas perguntas onde se destacam respostas sobre a sua vinda para o continente, a sua opinião sobre o humor e a sua paixão pelos Açores.

Como é que um Açoriano adopta a alcunha de “Boinas” e consegue vingar num tão complexo como a televisão?
Eu vim para o continente estudar com 18 anos. Segui é o percurso normal de muitos Açorianos. Vim fazer Direito. Licenciei-me. Mas, fui para Direito sem grande entusiasmo, foi mais para fazer o favor aos meus pais. E, embora tenha feito o curso sem grande dificuldade, percebi que não iria ser feliz ali. O meu sonho, desde adolescente, sempre tinha sido a escrita, viver da escrita. E, na Faculdade de Direito a melhor coisa que eu retirei desses cinco anos foram as actividades extracurriculares, muitas delas relacionadas com a escrita. Eu colaborava com jornais locais, fundei, com dois amigos, uma revista na Faculdade e fiz teatro universitário. Portanto, percebi que era na comunicação que eu queria estar. O que aconteceu é que no último ano do curso eu e esses dois grandes amigos escrevemos uma carta a um jornalista que admiramos muito. Soubemos que ele estava a abrir um programa televisivo. Eu tive a situação, quase miraculosa, em que no dia que terminei o curso fiz uma prova oral de manhã e de tarde estava convocado para trabalhar, oficialmente, na produtora para esse programa.

Esteve muito tempo nessa produtora ou foi convocado para um trabalho de curta duração?
Foram dois anos e meio nessa produtora a fazer projectos de televisão dos mais variados. E, foram dois anos e meio que eu considero uma pós-graduação em audiovisual.

Após esses dois anos e meio teve o convite para as Produções Fictícias?
Sim. Recebei um convite das Produções Fictícias, que muito me honrou, que escreviam e ainda escrevem para o Herman, que era o meu ídolo de adolescente e não tinha como recusar. Estando nas Produções, cuja base é o humor, era inevitável acabar por entrar nessa área também. Não era um objectivo primordial para mim mas, é um campo onde me sinto muito bem, tenho profunda admiração por muitos comediantes e fui trabalhando.

Como é que nasce a “Revolta dos Pastéis de Nata”?
Foi uma situação extraordinária pela sorte, pela coincidência, que foi: eu escrevia uma pequena crónica diária no jornal “A Capital”, que já não existe, era o último texto a entrar no jornal, eu tinha de fazer um apanhado da actualidade daquele dia, com humor. Eram textos muito curtos. Um belo dia, recebi um telefonema de um senhor que eu não conhecia que era subdirector do Canal 2, a dizer: “gosto muito das suas crónicas e gostava de o conhecer porque temos um projecto que talvez seja a sua cara”. Conhecemo-nos, demo-nos muito bem, partilhámos ideias, gravei um episódio piloto que viria a ser “Revolta dos Pastéis de Nata” e foi assim que comecei a dar a cara. Foi um acidente feliz sem quase dar por isso.

O Programa “5 para a Meia-noite” nasce como consequência do sucesso da “Revolta dos Pastéis de Nata”?
Mais ou menos. A “Revolta” foi um programa que correu maravilhosamente. Teve quatro séries durante dois anos. Depois disso, ainda fiz outro programa, bastante diferente, o “Sempre em pé” em que a alma era o Stand-up Comedy mas, com pessoas essencialmente desconhecias que não tivessem passado pelo “Levanta-te e ri”. Foram duas séries e depois surgiu este projecto do “5 para a Meia-Noite”, ideia do Bruno Santos, que é o subdirector de programas que atrás referi. Ele foi escolhendo-nos aos cinco, individualmente, num todo, e tem sido uma aventura extraordinária. Para mim, eu achava impossível superar o prazer que tinha na “Revolta dos Pastéis de Nata” mas, este programa ainda consegue fazer isso.

Como é que vê o grande sucesso do Stan-up Comedy em Portugal, como aconteceu nos últimos anos, depois de Raul Solnado dizer que já fazia esse tipo de humor?
Eu percebo essa frase do Raul Solnado… ele era, sem dúvida, um génio… mas, não é completamente verdade, porque uma das características essenciais do Stand-up é que a pessoa que está sozinha em frente ao microfone diz as suas próprias palavras e não era exactamente o caso do Raul Solnado. Ele tinha textos adaptados de Espanha que eram brilhantemente interpretados e bem adaptados mas, não era textos originais. Nesse sentido, o Satnd-up Comedy, em Portugal, nasce há pouco anos. Eu diria que o boom já passou, claramente. Foi necessário porque veio marcar uma rotura com um certo marasmo que havia na comédia em Portugal, com o formato onde apostam na careta e na chalaça sexual, a torto e a direito, e que ainda tem algum sucesso mas, era basicamente só e quase aquilo que existia… mais o Herman. Era fundamental haver sangue novo, haver veículos de humor diferenciados. Obviamente, toda a medalha tem o seu reverso, e esse boom foi fundamental mas, em cada dez pessoas havia uma que se aproveitava.

E nos dias de hoje, ficaram só os interessantes?
Hoje em dia estamos numa fase muito interessante, porque o trigo está a separar-se do joio. O público já se habituou, já levou com muitos anos seguidos disto, já conheceu muitas caras, muitos textos e agora já selecciona. Já não se ri de qualquer coisa.

Sente necessidade de correr o país com espectáculos?
Não. Faço com bastante regularidade mas, não me posso comparar com o Bruno Nogueira ou o Nilton, fazem bem mais. Eu adoro estar em casa, gosto da vida caseira. Mesmo assim, faço uns vinte espectáculos por ano.

Que faz o Luís fora da exposição pública que é a televisão e mesmo as crónicas que escreve para jornais e revistas?
Estou com os amigos, leio, vou ao cinema, vejo DVDs compulsivamente em casa e jogo à bola uma vez por semana.

Os Açores continuam a estar no seu dia-a-dia, onde vai colocando umas colheradas na revista do jornal Sol e mesmo no programa da RTP2, onde sublinha, sempre, o facto de ser açoriano, dando a conhecer a sua terra. Um Açoriano é isso mesmo… é estar constantemente a lembrar a sua terra e dizer aos outros a maravilha que existe em pleno Oceano Atlântico?
Eu acho que sim. Eu acho que existem três tipos de Açorianos: os Açorianos que pensam em sair do Arquipélago… tenho uma profunda admiração por esses. Tenho seis amigos de infância que vieram estudar para o continente e resta eu e outro, os outros a conta-gotas foram regressando, foram regressando por vontade firme, porque não conseguiram deixar de regressar, e essas pessoas que regressam e querem vingar na sua terra são, para mim, de actos notáveis e de admirar; os Açorianos que nem pensam em sair e os Açorianos, como eu, que saem e que para poderem prosseguir o seu caminho, o caminho que escolheram, não têm como voltar, pelo menos, para já. Na minha área eu não me safaria lá.

E como é que compensa a ausência dos Açores?
A única maneira que eu tenho de compensar isso é, de facto, não desperdiçar nenhuma oportunidade para falar das Ilhas. Eu sinto-me, à minha maneira, à minha pequena escala, um pequeno embaixador. Eu acho que nós temos um arquipélago paradisíaco... não é apenas uma terra belíssima a nível nacional… eu acho que é um local único a nível planetário, com uma produção de Cultura por quilómetro quadrado absolutamente espantosa. Basta pensar na quantidade de escritores que de lá saíram. Portanto, se toda a gente já tem orgulho da sua terra, eu acho que o orgulho dos Açorianos é reforçado, ainda mais, pela importância histórica que o Arquipélago ganhou ao longo dos séculos e pela distância que nos aumenta a saudade e o amor perante a terra natal.

Quando veio estudar para o Continente sentiu alguma falta de conhecimento em relação aos Açores que por vezes são confundidos, apenas, com a série “Xailes Negros”?
Gritante. Acho que é algo que se tem vindo a mitigar nos últimos anos, até porque os Açores estão na moda, mais do que isso, são mais estimados, com boas campanhas, com boa promoção quer do Turismo Açoriano, quer de algumas pessoas que deram destaque às ilhas como o Pedro Pauleta, a Nelly Furtado… isso mudou um pouco a imagem dos “Xailes Negros” que existia. “Xailes Negros” foi uma série espantosa, sem qualquer irresponsabilidade para o Zeca Medeiros, que é um artista genial e não tem culpa disto, mas os “Xailes” ajudou a criar um conceito de uma terra escura, onde está sempre a chover e onde as pessoas estão muitos tristes… e esquecem que aquela série foi há décadas atrás, no pico da emigração. Havia um desconhecimento enorme em relação aos Açores. Hoje em dia, ainda fico indignado quando falo com alguém e nem sabem quantas ilhas são… ao mesmo tempo, eu não fico completamente desgostado pelo factos dos Açores terem esse lado misterioso para tanta gente… de certa forma isso ajuda a conservar o Arquipélago encantador como é e a não transformá-lo, com todo o respeito, numa Madeira… a Madeira já está, de tal forma, virada para o Turismo que acaba por perder alguma graça…

Mas, teme que isso possa acontecer, principalmente no caso de São Miguel, Terceira e Faial?
Penso que não, porque o nosso clima está lá para nos ajudar. (Risos).

Contudo, nos casos concretos de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e mesmo a Praia da Vitória existe um desenvolvimento muito grande…
Enorme, enorme…

E esse desenvolvimento não poderá prejudicar a beleza natural e o mistério das ilhas?
Eu penso que, para já, está numa fase muito saudável. Eu vou várias vezes trabalhar aos Açores, principalmente a São Miguel, e arrisco-me a dizer, até escrevi uma crónica sobre isso, recentemente, no “Sol”, que Ponta Delgada deve ser uma das cidades mais bonitas do país. O crescimento daquela cidade, nos últimos quinze anos, é espantoso. Eu creio que, nem que seja pelo factor geográfico e serem nove ilhas, que vai ser sempre difícil os Açores virem a ser um Algarve ou uma Madeira… os interesses locais nunca o permitiriam…

O Low Cost é um bem ou mal necessário para ajudar a promover os Açores?
Alguma coisa tem de acontecer, porque eu, ou qualquer açoriano, ter de pagar mais dinheiro para ir ver a minha terra, dentro do meu país, do que pagaria para ir à maioria das capitais europeias é uma situação absurda e aparentemente é inacreditável como é que essa negociata se mantém… alguma coisa tem de ser feita.
Adélio Amaro

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Entrevista a Carlos do Carmo

Carlos do Carmo é um dos fadistas mais conceituados de Portugal. Tem representado o nosso país um pouco por todo o Mundo durante os seus 45 anos de carreira. Numa conversa informal, não deixei de lhe perguntar como tem sido a sua relação com o público, com os emigrantes e também com o leiriense José Luís Tinoco (autor de várias letras interpretadas por Carlos do Carmo). Falar de Carlos do Carmo, como refere a sua biografia, é “associar o seu nome ao que de mais genuíno e popular se canta nas ruas de Lisboa, quer seja um simples pregão de varina, um esvoaçar de gaivotas do Tejo ou uma festa popular com sardinha assada. Na sua voz, andam também de mãos dadas a saudade, os amores não correspondidos, a solidão, a primavera com andorinhas e os «putos» deste Portugal e ainda a esperança e o futuro”.

São mais de quarenta anos de carreira. Carlos do Carmo esperava, quando se iniciou no mundo da música, conseguir uma carreira tão sólida e recheada de sucessos como aquela que tem alcançado tão brilhantemente?
As coisas nunca acabam. Eu penso que as pessoas são muito generosas comigo. Portanto, esta generosidade que me desconcerta muitas vezes ao mesmo tempo é o meu oxigénio, torna-se muito estimulante porque atinge um grau de responsabilidade muito elevado para mim. Mas o que eu sinto, isso é o lado mais cativante de tudo isto, é o afecto que as pessoas me dedicam que é um misto de respeito e de ternura e isso é inapagável.

Sente isso após cada espectáculo?
Eu saio do palco com uma responsabilidade em cima dos ombros sempre acrescida. Não vejo isto como uma coisa que me deixe perturbado com a fama, com a glória. Vejo isto como um estímulo, como qualquer coisa que vale a pena continuar. E, vale a pena fazer aquilo que tenho tentado fazer que é ser muito mestre em cima do palco… dar tudo o que tenho para dar.

O Carlos do Carmo tem contactado com os portugueses um pouco por todo mundo, através dos seus imensos espectáculos. Qual tem sido a reacção desses portugueses quando têm a oportunidade de ver ao vivo um espectáculo de Carlos do Carmo a milhares de quilómetros de Portugal?
Isso é uma ligação cúmplice de muitos anos. Eu comecei a cantar para os nossos emigrantes em 1967. E, nunca mais deixei de voltar aos emigrantes com o mais profundo respeito. Eu não me recordo de nenhum país onde exista emigração portuguesa que não tenha cantado, desde a Austrália aos Estados Unidos da América e em todos os países da Europa onde os portugueses estão. Sempre tive a sensação que lhes levava um pouco de Portugal.

É aí que aparece a saudade?
Eu nunca gostei de abusar do sentimento da saudade. Ou seja, eu procuro sempre falar-lhes do que tinha acontecido mas ao mesmo tempo do que estava a acontecer, levando notícias frescas e cantando, também, coisas frescas misturadas com as mais antigas. E, foi essa a maneira que eu encontrei de me identificar com a emigração para quem canto, de fez em quando, com muito prazer… gosto muito de o fazer.

Por alguma razão em especial, além do contacto e o convívio com os portugueses fora do país?
Porque é uma forma muito curiosa de aprender a ser português. Porque a distância é tremenda e provoca nas pessoas um orgulho e uma saudade que nós em Portugal, um bocado distraídos, malbaratamos.

Foi isso que sentiu em 1976 quando representou Portugal no Festival da Eurovisão?
Aí foi uma coisa diferente. Era uma coisa de cariz internacional. Sabe que, quando eu estou a fazer um espectáculo de outras características sinto-me responsável noutro nível.

Como assim…
É que aí, eu sinto que não posso falhar, porque se eu falho vão dizer “o português”, “Portugal” falhou. Aí, o facto de sermos um país pequeno e ainda um pouco isolado, ainda não estamos completamente integrados neste conceito muito sério das nações. Isto aumenta a responsabilidade de quem canta ou de quem exerce uma actividade fora do país.

Como é que na sua carreira surge um trio como Ary dos Santos, José Luís Tinoco e Carlos do Carmo?
São aqueles encontros maravilhosos que a vida propícia. Devo dizer o seguinte: existem algumas matérias da vida em que eu me sinto privilegiado e essa é uma delas. Cantar essa gente, para mim, é um privilégio. Eu canto-os hoje como os cantei há trinta anos e não sinto diferença nenhuma do tempo. Não tenho a sensação de estar a cantar nada de ontem.

José Luís Tinoco, leiriense, não surge em público. Conhecendo-o bem, qual a razão que leva Luís Tinoco a esconder-se ou a afastar-se da imagem pública?
É a natureza dele. Ele é um homem muito especial. Fecha-se em casa. É um pouco lunático e muito fechado sobre ele próprio. E, isso leva a que o trabalho dele não seja tão divulgado. Eu sou muito perseverante e falo sempre nele, canto-o sempre e chamo a atenção das pessoas para que não exista surpresa. Porque, pela natureza dele as pessoas não o conheceriam.

Fazendo uma pergunta velhinha, acha que o fado vai continuar com os novos fadistas que agora surgiram no nosso país como o caso de Mariza, Mafalda Arnauth, Ana Moura a confirmação de Camané, entre outros?
Eu acho que sim porque, o que realmente faltava é que chegasse gente nova a tocar e a cantar que é isso que lhe vai dar continuidade. Isto é dos livros. Quando os mais antigos, mestres que nós conhecemos, que eu tive o privilégio de conhecer, começaram a deixar de cantar surgiu a nossa geração. Agora surgiu uma nova geração. E, o fado é isto. Hão-de surgir outras e outras, espero, provavelmente com conceitos estéticos diferentes, porque a vida muda, a vida não pára, os conceitos podem ser outros e tudo estará presente na arte, porque a arte não é uma coisa estática.
Adélio Amaro

José Pedro Pinheiro Correia

José Pedro Pinheiro Correia nasceu em Leiria a 9 de Junho de 1892. Era filho de Fernando Francisco Correia (telegrafista, natural de Lisboa) e de Etelvina das Dores Pinheiro Correia (natural de Leiria). Neto paterno de Francisco António Domingues e de Maria José. Neto materno de Teotónio Pinheiro e Maria Rita.
Pinheiro Correia fez os seus estudos secundários no Liceu de Leiria e os superiores em Coimbra e Lisboa. Assentou praça, como voluntário, com 19 anos, no Regimento de Infantaria 7, em Leiria. Em 1915 ingressou na Escola de Guerra (actual Academia Militar), onde tirou o curso da Arma de Infantaria. Foi promovido a Alferes no ano seguinte. Nesse ano, concorreu ao primeiro curso que se realizou na Escola de Aeronáutica Militar onde era director de instrução de pilotagem o Comandante Sacadura Cabral.
Sem concluir o curso de pilotagem, Pinheiro Correia foi para Moçambique, em 1917. Dois anos depois regressa à metrópole onde vem a ser promovido Tenente, em 1920, sendo colocado no Grupo de Esquadrilhas de Aviação República, como director da Secção Fotográfica. Nesse mesmo ano obtém o curso de observador aéreo.
É promovido a Capitão a 25 de Agosto de 1922 e a 3 de Novembro, desse mesmo ano, vai para a Escola Militar de Aeronáutica, onde tirou o Curso de Piloto Aviador recebendo o respectivo diploma a 5 de Fevereiro de 1925. Começa assim, a sua grande carreira aérea, sendo o responsável pela primeira ligação da metrópole às províncias do ultramar. Fez imensas viagens com forte destaque para as ligações aéreas com o continente Africano.
O Coronel Pinheiro Correia, em 1926, foi nomeado comandante da Companhia de Aerostação, em Alverca. Mais tarde foi para o Grupo Independente de Aviação de Bombardeamento, em Alverca, após ter sido promovido a Major, em 1930.
Em Junho de 1934 foi transferido para o Grupo de Aviação de Informação n.º 1 da Amadora, o qual comandou até 1938. Nesse mesmo ano, obteve a patente de Tenente-Coronel e passou a comandar a Base da Ota onde permaneceu até 1943, ano em que foi promovido a Coronel e colocado no Comando Geral da Aeronáutica Militar. Seguiu-se a nomeação para Comandante da Aeronáutica no Comando Militar dos Açores, na ilha de São Miguel, onde esteve até 1946.
Após a sua passagem pelos Açores, desempenhou várias funções, sempre na mesma área, com passagem pela TAP onde foi delegado em Paris.
O Coronel Pinheiro Correia era uma figura muito activa. Promoveu várias provas de aviação nacionais e internacionais e diversas actividades relacionadas com a aviação, onde se destacam o “Meeting” Internacional da Amadora e a Exposição Internacional de Aeronáutica. Organizou um cruzeiro a Espanha, um outro ao Norte de África e participou noutro ao Ultramar Português.
Fez parte de diversos Congressos onde apresentou teses, dirigiu o jornal “Do Ar” e foi presidente da direcção do “Aero Clube de Portugal”. Entre diversos trabalhos, escreveu “Aerostação Militar”, “Política Aérea” e “O que é e para que serve um avião”.
Das numerosas condecorações que recebeu, destacam-se a Comenda da Legião de Honra, a Ordem de Torre e Espada, a Cruz Vermelha da Alemanha, a Ordem Real do Salvador da Grécia, a Ordem de Cristo, a Ordem do Infante Dom Henrique e a Ordem do Império.
Muito fica por escrever sobre este nobre e ilustre leiriense. Contudo, existe um trabalho extraordinário sobre o Coronel José Pedro Pinheiro Correia no seguinte endereço da Internet: http://www.coronelpinheirocorrea.tosterego.com
O Coronel Pinheiro Correia faleceu a 2 de Julho de 1973.
Adélio Amaro

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Adélio Amaro entrega a Pedro Pauleta o Diploma da AICAL

O Açoriano Pedro Miguel Carreiro Resendes, "Pauleta", melhor marcador de sempre da Selecção Portuguesa e melhor marcador da história do Paris St. German (França), recebeu das mãos do leiriense Adélio Amaro, presidente da Associação de Investigação e Cultura dos Açores/Leiria (AICAL), o Diploma de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados ao engrandecimento dos Açores.
A entrega do referido Diploma decorreu nas instalações da Fundação Pauleta onde também funciona o Complexo Desportivo e Escola de Futebol Pedro Pauleta, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores.
Pedro Pauleta, honrado com a entrega do Diploma, reconheceu a importância desta Associação na ajuda que tem prestado ao desenvolvimento Cultural entre Açores e Leiria.
O ex-jogador lembrou ainda, alguns episódios da sua carreira e a forma como tem sido acarinhado por imensas pessoas e instituições, tanto em Portugal como na França, sem esquecer os Açores.
Embora a trabalhar com o Paris St. German, Pedro Pauleta mantém a ligação à terra que o viu nascer, através da sua residência e também do Complexo Desportivo com capacidade para dar formação a 200 crianças.

AICAL na imprensa: Açoriano Oriental

Entrevista a Rita Guerra

A Rita Guerra passou parte da sua infância nos Açores, na Ilha Terceira. Que recorda dessa fase da sua vida?
Tanta coisa. Eu vivi no Bairro de Oficiais da Base das Lajes, nos anos 80. Lembro-me praticamente de tudo. Foi uma fase muito marcante da minha vida. Foi uma fase da vida que eu acho extremamente importante que é a nossa adolescência. E, as experiências que lá tive foram todas positivas.

Tem saudade?
Tenho muita saudade. Ainda recentemente fiz escala lá, a caminho da ilha Graciosa. E do Aeroporto Civil tive oportunidade de voltar a ver a zona do Bairro onde habitava… Lembro-me praticamente de tudo como era, porque hoje está diferente. E tenho a sorte de ter feito concertos na Ilha.

Conhece outras Ilhas?
Sim. Da ilha de São Miguel, recordo-me de algumas coisas, porque tenho lá família e estive lá o ano passado a fazer um concerto nas Portas da Cidade. Estive no Rali Sata Açores, onde fui cantar o Hino dos Açores. Este ano estivemos no Pico, em São Roque… isto para dizer que não conheço todos mas que conheço um pouco de todas as que já visitei, faltando-me apenas visitar o Corvo e Flores. Tive a oportunidade de conhecer, recentemente a Graciosa.

Esteve na Graciosa onde foi madrinha da Gruta do Enxofre candidata às Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Como é que surgiu o convite?
O convite surge, precisamente, por saberem que eu tinha uma afinidade muito grande com o Arquipélago e o facto de ter lá vivido. Eu menciono várias vezes, em entrevistas, a minha passagem pelos Açores e sempre com grande saudade. De maneira que alguém terá sabido e entendeu convidar-me.

Que achou da Gruta do Enxofre, na Ilha Graciosa?
Tive pena de não conseguir ver a Gruta do Enxofre, porque naquele dia o nível de dióxido de carbono estava muito alto e era proibido entrar. Mas, tive a oportunidade de ver a visita virtual que eles têm lá disponível. Tive, ainda, a oportunidade de ver a boca da gruta e ver o espaço maravilhoso onde está localizada.

Depois dos Açores como é que surge a música na vida da Rita Guerra?
A música sempre esteve cá a fervilhar. Mas, foi nos Açores, precisamente, que eu percebi que também conseguia acompanhar-me ao piano. Eu tocava piano e cantava e nos Açores descobri que conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Tentei fazer as duas coisas juntas e gostei do resultado e da experiência.
Entretanto as oportunidades foram surgindo e eu acabei por conseguir, felizmente, ter a sorte de enveredar pela música. Tive a sorte de conhecer as pessoas certas.

O maestro Pedro Osório é uma pessoa fundamental na sua carreira?
Claro que sim. O Pedro Osório é um génio, é um excelente músico, é um grande amigo. Foi director musical no Casino do Estoril durante muitos anos e é um músico por excelência.

As participações nos Festivais da Eurovisão são marcos que ficam na sua carreira. Teve a oportunidade de participar mais de que uma vez. Acha que Portugal alguma vez vai conseguir ganhar esse Festival? Depois de ter apresentado tão boas vozes, como foi o caso da Rita Guerra?
Eu já ouvi dizer tanta coisa sobre a Eurovisão… as coisas que eu ouvi foram todas muito feias… eu não vou reproduzir porque não o devo fazer… e por isso mesmo, as coisas feias que ouvi, não sobre Portugal, mas sobre a forma como eventualmente é gerido tudo o que rodeia a noite da Eurovisão, por aquilo que eu sei, Portugal nunca vai ganhar.

“As Canções do Século” foi um projecto que ajudou a sua carreira a dar um salto mais visível perante o público?
Sim, sem dúvida. “As Canções do Século” foi um projecto que teve imensa audiência, naquele Festival da Canção, no ano em que ganhou a Anabela. E, a partir daí, começaram a surgir muitos convites e fizemos quase sete anos de espectáculos ao vivo. E, era um espectáculo muito caro, e nem por isso deixaram de contactar e contratar.
Foi extremamente importante. Teve imensa projecção. Houve muita gente a procurar o disco, que não estava gravado. E, depois tivemos oportunidade de fazer um espectáculo ao vivo no Casino do Estoril para ser filmado e gravado e ver, finalmente, o registo que pudesse ser vendido ao público. Este projecto foi encomendado apenas para a noite do Festival e de repente foi um sucesso enorme e acabou por ser um bom trampolim para todos nós.

Durante 21 anos esteve a fazer espectáculos no Casino do Estoril. Foi por opção própria ou entendeu que ali poderia elevar a sua carreira?
O Casino é uma casa maravilhosa, com grandes espectáculos de qualidade, mas tem um público itinerante. Tem um público muito variado e diferente. As pessoas que ali vão, na sua maioria, não vão para ouvir a Rita Guerra. As pessoas vão ali para ver o espectáculo, para ali jantar… e existem muitos grupos estrangeiros que por ali passam.
Obviamente que tem de ser um espectáculo para agradar a todos e não é um espectáculo onde se destaca apenas um cantor ou uma cantora, ou um bailarino ou um solista…
Sendo assim o público nunca era mesmo e o espectáculo sim, era sempre o mesmo durante um ano e meio ou dois anos, porque tinha uma produção muito cara.
Sendo assim, é óbvio, que não é muito criativo para um artista cantar as mesmas coisas todos os dias.

Esta nova fase de espectáculos no exterior acha que é melhor do que estar diariamente no mesmo palco?
É muito melhor do que estar sempre no mesmo palco. Eu acho que não se pode comparar uma situação com a outra, porque são completamente distintas e apenas têm em comum a música.
Agora, chegar ao final deste tempo todo e vir para junto do público e estar ao alcance de toda a gente é muito bom.
Enfrentar o público pelo país fora, e não só, para mim, faz sentido. É maravilhoso ver que realmente tenho um apoio gigante de pessoas que gostam de mim, que gostam das minhas músicas, que gostam do nosso espectáculo e que vão assistir, mesmo que esteja frio ou a chover.
Já dei espectáculos perante vinte mil pessoas, a chover muito, e foi maravilhoso ver as pessoas a assistirem sem arredar pé, mesmo com as más condições do tempo.

Foi a Rita Guerra que entendeu deixar o Casino?
A determinada altura entendi vir embora. Cheguei ao pé do Pedro Osório e disse-lhe que estava na altura de deixar o Casino e ir para os espectáculos no exterior. Ele disse-me: “Como produtor musical do Casino peço-te por tudo que não vás embora. Como amigo, vai-te embora já.”. Portanto, houve uma altura em que realmente senti que deveria ir embora… mas, foi-me pedido para não sair, até porque era uma época muito complicada, porque o Casino ia entrar em obras e o espectáculo ia passar para uma sala muito pequena e precisavam de um nome que tivesse consistência para chamar público. Eu disse que sim, acabei por ficar. Era confortável, onde se tinha trabalho 365 dias por ano.

Quando sai é o momento certo para a continuação da sua carreira?
As coisas aconteceram no tempo certo em que tinham de acontecer. Não acho que saí de lá tarde demais, porque tinha cá fora um público enorme a esperar por mim. Senti que as pessoas não se esqueceram de mim e sinto uma energia e uma vontade enorme de continuar.

O nível de vendas de um CD é fruto de alguém que gosta de um determinado trabalho. Após a sua saída do Casino as vendas dos trabalhos da Rita subiram?
Sem dúvida. Foi uma coisa astronómica. Sabe, estou com 42 anos mas sinto-me uma miúda, com tudo isto.

Recentemente sagrou-se vencedora no “Top Choise Awards”, na categoria de “Top Internacional Female Singer 2009” através da votação da comunidade portuguesa residente no estrangeiro. Como é que surge esse reconhecimento do público português no estrangeiro perante o trabalho da Rita Guerra, mesmo com poucas actuações realizadas fora do país?
Eu penso que é através do conhecimento que a comunidade portuguesa tem do meu trabalho, essencialmente através da televisão, rádio e Internet. Por isso, estou completamente disponível e com muita vontade para cantar ao vivo para os nossos emigrantes, porque eles são, sem dúvida, o exemplo da nossa representação portuguesa no estrangeiro. A eles agradeço muito este prémio que me foi atribuído dois anos seguidos.

Está agora a promover o CD “Luar”. De todos os trabalhos que editou qual foi o que lhe deu o verdadeiro impulso para a promoção da sua carreira perante o público?
Eu estou a promover o “Luar” que é um trabalho mais acústico e por ter outros compositores. Mas, o mais importante, que foi o que marcou a viragem para a fase em que eu estou agora, foi o “Rita”. Foi importante a vários níveis e foi uma pedra muito rija que ficou ali no meu caminho. Foi um marco muito grande e um ponto de viragem na minha carreira. Os outros trabalhos foram sempre diferentes uns dos outros, acreditei sempre naquilo que fiz, embora, pensando hoje, teria feito algumas coisas diferentes, mas isso faz parte do percurso… se eu soubesse o que sei hoje…
Eu vou continuar a fazer aquilo em que acredito e enquanto os trabalhos futuros não estiverem como eu quero, não sai nenhum. Portanto, eu continuarei, sempre, a pautar do crédito daquilo que faço, com qualidade e trabalho.
Adélio Amaro

Fernando de Lara Reis

Fernando de Lara Reis nasceu em Leiria a 28 de Dezembro de 1892. Era filho de Francisco António dos Reis (natural de Viseu) e de Maria del Carmen Rosália Clara Eusébia de Lara Reis (natural de Cádis, Espanha). Neto paterno de Agostinho António dos Reis e de Rita Albertina dos Prazeres Reis e neto materno de Manuel Sanchez de Lara e de Maria Manuela Santos Mena.
Lara Reis frequentou o Liceu de Leiria e completou os seus estudos no Colégio Militar e Escola de Guerra, ingressando em Infantaria, vindo a reformou-se muito cedo como Capitão por ter sofrido uma acidente de aviação na sua última prova como aviador militar, em França, durante a 1.ª Grande Guerra.
Seguindo a carreira do magistério foi nomeado professor efectivo do Liceu de Macau, função que exerceu até à sua morte. No antigo território português, Lara Reis fundou o Rotary Club de Macau e foi presidente da Agência de Macau dos Combatentes da Grande Guerra de 1914-1918. Ali criou um Ossário como monumento para os combatentes da referida guerra.
O Capitão Fernando de Lara Reis legou a sua casa “Sol Poente” à Santa Casa da Misericórdia para nela ser instalada uma clínica. Mais tarde, o Rotary Club de Macau mandou colocar uma placa em português e chinês com o seguinte: “Pavilhão Lara Reis – clínica anticancerosa (Lara Reis – Lara Reis Cancer Clinic)”.
Também legou à Biblioteca de Leiria a sua biblioteca particular assim como imensa documentação e a sua colecção de moedas de ouro, prata e cobre ao Museu Municipal…
Fernando de Lara Reis foi um grande apaixonado por viagens. Durante a sua vida escreveu as suas impressões que foi colhendo viagem após viagem, com destaque para o Extremo Oriente, tendo conhecido todos os Continentes. O fruto dos seus apontamentos resultou em 26 volumes manuscritos que intitulou de “Diário de Viagens”. Deixou ainda dois volumes manuscritos com o título “A minha vida” sobre a sua experiência profissional e sobre a vida social de Macau da primeira metade do século XX.
Este ilustre leiriense foi grande colaborador da imprensa, com imensos artigos publicados em jornais e revistas.
Sobre a vida de Fernando Lara Reis o jornalista e escritor Orlando Cardoso escreveu “Macau e o Oriente na Vida de Lara Reis” e também Acácio de Sousa, director do Arquivo Distrital de Leiria, tem-lhe dedicado alguns dos seus estudos.
O Capitão Fernando de Lara Reis faleceu em Macau no dia 14 de Janeiro de 1950, com 57 anos.
Adélio Amaro

AICAL no Correio dos Açores


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Acácio de Paiva

Acácio Sampaio de Telles e Paiva nasceu em Leiria, no Largo da Sé, n.º 7, a 14 de Abril de 1863. Era filho de José de Paiva Cardoso (natural de Alva) e de Leopoldina Amélia Carolina Telles (natural de Lisboa).
Iniciou os seus estudos secundários no Liceu de Leiria e concluiu-os em Coimbra. Licenciou-se em Farmácia na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 1887.
Já em Lisboa, depois de Porto e Coimbra, fez os preparatórios de Medicina tendo que abandonar porque, em 1888, ingressou no quadro do funcionalismo da Alfândega, como 3.º Aspirante, sendo, em 1892, Chefe de Despacho na Vieira. Já em 1902 foi promovido a 2.º Aspirante e veio a ocupar o lugar de Chefe de Serviços, em 1917.
Reconhecido como grande poeta, prosador, crítico e jornalista, colaborou com diversos jornais e revistas.
Começou por escrever para o jornal “Actividades”, do Porto, passando, mais tarde, a colaborar em diversas publicações com destaque para “Almanaque de Lembranças Luso Brasileiro”, “O Século” (neste jornal chegou a dirigir o Suplemento Humorístico), “O Mundo”, “Diário de Notícias”, “O Mensageiro”, “Ilustração Portuguesa”, entre muitas outras.
Em todas estas publicações Acácio Sampaio de Telles e Paiva publicou centenas de poesias, muitas delas com o pseudónimo de “Belmiro”.
Segundo alguns autores, a obra literária de Acácio de Paiva está ao nível de João de Deus e Rodrigues Lobo, como mencionou Agostinho Gomes Tinoco, a páginas 460, do seu “Dicionário dos Autores do Distrito de Leiria”, editado em 1979:
“Foi um improvisador e repentista notável e «o maior dos ironistas do seu tempo». A série de crónicas em versos publicada no Diário de Notícias, e depois em O Século, à qual dera o título de «Fita da Semana», é, no dizer da crítica, a sua melhor obra”.
Como homem ligado ao mundo da Literatura, com enorme realce para a sua intensa actividade poética, já referida, Acácio de Paiva produziu diversas peças de Teatro, algumas delas feitas em colaboração com outros grandes nomes da sua época, na sua maioria de índole alegre e ligeira, tendo traduzido várias obras do mesmo género, do francês, italiano e espanhol.
Justificando o seu amor pelo Teatro está o facto de ter sido sócio fundador da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.
Do seu punho foram inúmeros os poemas, os versos, as críticas, e os texto em prosa e de Teatro que deu ao mundo e muitos outros que ficaram inéditos.
Em 1988, a Câmara Municipal de Leiria, com a coordenação de Manuel Matias Crespo, publicou um justa homenagem a este ilustre Leiriense, através do livro “Versos de Acácio de Paiva – Insigne Poeta Leiriense”.
Acácio Sampaio de Telles e Paiva faleceu com 81 anos de idade, na sua Casa das Conchas, no Olival, concelho de Ourém, a 29 de Novembro de 1944.
Adélio Amaro

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

D. Pedro Vieira da Silva

D. Pedro Vieira da Silva nasceu em Leiria a 15 de Setembro de 1598. Filho de Gaspar Rebelo da Guerra Dias Preto (juiz dos Órfãos) e de D. Clemência Vieira da Silva, terá feito os seus primeiros estudos na cidade do Lis. Depois, cursou no Colégio de S. Paulo e posteriormente tirou o doutoramento em Direito na Universidade de Coimbra onde leccionou como professor substituto.
Foi Magistrado e Desembargador no Porto, cidade onde veio a casar com Leonor de Noronha de quem teve sete filhos, dos quais se ordenaram quatro. Desempenhou, também, as funções de Juiz dos Feitos da Coroa e foi membro do Conselho da Fazenda.
Por questões não bem específicas, foi enviado para Castelo Branco, segundo se julga, por ter incorrido no desagrado das Cortes, como refere Agostinho Gomes Tinoco, a páginas 614, na primeira edição do “Dicionário dos Autores do Distrito de Leiria”.
Depois de Castelo Branco passou para Madrid onde advogou. Mais tarde, por determinação de Filipe III, foi para o Algarve com a missão de tentar impedir uma revolta contra o domínio castelhano.
Com a independência de Portugal, 1640, foi nomeado Secretário de Estado. Em 1660 foi afastado do cargo, pensa-se que por questões políticas, sendo deportado para Évora e mais tarde para Ourém.
Após enviuvar e refeita a paz no país assim como as relações com a Santa Sé, D. Pedro Vieira da Silva, foi ordenado presbítero e apresentado para a Mitra leiriense a 28 de Setembro de 1668 e confirmado pelo Papa a 11 de Maio de 1670, tomando posse a 22 de Abril de 1671, já com 73 anos de idade.
D. Pedro Vieira da Silva foi responsável pela construção do Convento dos Capuchos, ainda como Secretário de Estado, e fundador do Seminário Diocesano, já nas funções de Bispo da Diocese de Leiria. Em 19 de Outubro de 1673 autorizou os Agostinhos descalços a fundarem um convento na ermida do Bom Jesus na vila de Porto de Mós que lhes tinha sido doada pela Misericórdia daquela vila.
Deixou imensos manuscritos, alguns deles verdadeiros testemunhos da vida conturbada que se vivia em Portugal em pleno século XVII.
D. Pedro Vieira da Silva faleceu, na cidade de Leiria, a 12 de Setembro de 1676 e foi sepultado no convento de Santo António dos Capuchos. Em 1864 os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério da Sé de Leiria e já em pleno século XX, 1907, os seus restos mortais foram colocados no interior da Sé.
Adélio Amaro

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

João Pereira da Silva Dias

João Pereira da Silva Dias nasceu na freguesia de Marrazes a 17 de Março de 1894. Filho de João Pereira Dias e de Isabel da Conceição Dias, ele natural de Marrazes e ela de Alcaria, concelho de Porto de Mós. Silva Dias era neto paterno de Manuel Pereira e de Maria das Dores e materno de Bento da Silva e de Maria Esperança.
Após a conclusão dos estudos secundários no liceu da cidade de Leiria matriculou-se, em 1911, em Ciências Matemáticas na Universidade de Coimbra, onde se bacharelou em 1915 e mais tarde se doutorou. Em 1921 ascendeu ao lugar de professor catedrático regendo as cadeiras de Matemáticas Gerais, Geometria Descritiva e Estereotomia, Geometria Projectiva, Geometria Superior e Física Matemática. Estas suas funções de professor universitário foram acumuladas com as aulas que deu de Metedologia das Ciências Matemáticas na Escola Normal Superior da Universidade de Coimbra, entre 1926 e 1930.
Exerceu os cargos de Director Geral do Ensino Superior e Belas-Artes entre 1933 e 1939, foi Secretário-Geral do Ministério da Educação Nacional, entre 1933 e 1939, e desempenhou as funções de Comissário do Governo junto dos Teatros de S. Carlos e de D. Maria II, entre 1936 e 1942.
Silva Dias pertenceu aos Conselhos de Arte e Arqueologia da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta Nacional de Educação, tendo, ainda, feito parte de diversas comissões de estudo onde se destaca a da organização geral do ensino em Portugal nos diferentes graus, no ano de 1933.
Durante cinco anos (1954-1959) foi Director da Faculdade de Ciências de Coimbra e criou o Arquivo do Teatro Nacional de S. Carlos assim como a ampliação e organização do Arquivo do Teatro D. Maria II.
João Pereira da Silva Dias era sócio da Academia Nacional de Belas-Artes, do Instituto de Coimbra, do Instituto Histórico-Geográfico de S. Paulo (Brasil), da Academia das Ciências e Artes de Lyon e da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Além da sua actividade de professor e de homem com forte desempenho na área cultural, Silvas Dias fez várias visitas culturais a países do Continente Europeu assim como ao Extremo Oriente, África e Brasil.
Este ilustre leiriense colaborou com várias revistas onde se destacam “Arquivo Pedagógico”, “Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra”, “Museu” e “Estudos Italianos em Portugal”.
Silva Dias recebeu a Comenda da Ordem da Instituição Pública e deixou a sua biblioteca ao Arquivo Distrital de Leiria, ao Arquivo do Teatro de S. Carlos e à Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.
Entre diversos trabalhos, escreveu: “Involuções do Grupo Cremoniano das Matemáticas”, “Valor Pedagógico da História das Matemáticas”, “Cenários do Teatro de S. Carlos”, “Iconografia Broteriana”, “Correlação de assuntos no ensino da Matemáticas”, “Leiria vista por Desenhadores dos séculos passados” (comunicação publicada no livro do 1.º Congresso das Actividades do Distrito de Leiria).
João Pereira da Silva Dias faleceu no Porto a 13 de Setembro de 1960.
Adélio Amaro