A Rita Guerra passou parte da sua infância nos Açores, na Ilha Terceira. Que recorda dessa fase da sua vida?
Tanta coisa. Eu vivi no Bairro de Oficiais da Base das Lajes, nos anos 80. Lembro-me praticamente de tudo. Foi uma fase muito marcante da minha vida. Foi uma fase da vida que eu acho extremamente importante que é a nossa adolescência. E, as experiências que lá tive foram todas positivas.
Tem saudade?
Tenho muita saudade. Ainda recentemente fiz escala lá, a caminho da ilha Graciosa. E do Aeroporto Civil tive oportunidade de voltar a ver a zona do Bairro onde habitava… Lembro-me praticamente de tudo como era, porque hoje está diferente. E tenho a sorte de ter feito concertos na Ilha.
Conhece outras Ilhas?
Sim. Da ilha de São Miguel, recordo-me de algumas coisas, porque tenho lá família e estive lá o ano passado a fazer um concerto nas Portas da Cidade. Estive no Rali Sata Açores, onde fui cantar o Hino dos Açores. Este ano estivemos no Pico, em São Roque… isto para dizer que não conheço todos mas que conheço um pouco de todas as que já visitei, faltando-me apenas visitar o Corvo e Flores. Tive a oportunidade de conhecer, recentemente a Graciosa.
Esteve na Graciosa onde foi madrinha da Gruta do Enxofre candidata às Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Como é que surgiu o convite?
O convite surge, precisamente, por saberem que eu tinha uma afinidade muito grande com o Arquipélago e o facto de ter lá vivido. Eu menciono várias vezes, em entrevistas, a minha passagem pelos Açores e sempre com grande saudade. De maneira que alguém terá sabido e entendeu convidar-me.
Que achou da Gruta do Enxofre, na Ilha Graciosa?
Tive pena de não conseguir ver a Gruta do Enxofre, porque naquele dia o nível de dióxido de carbono estava muito alto e era proibido entrar. Mas, tive a oportunidade de ver a visita virtual que eles têm lá disponível. Tive, ainda, a oportunidade de ver a boca da gruta e ver o espaço maravilhoso onde está localizada.
Depois dos Açores como é que surge a música na vida da Rita Guerra?
A música sempre esteve cá a fervilhar. Mas, foi nos Açores, precisamente, que eu percebi que também conseguia acompanhar-me ao piano. Eu tocava piano e cantava e nos Açores descobri que conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Tentei fazer as duas coisas juntas e gostei do resultado e da experiência.
Entretanto as oportunidades foram surgindo e eu acabei por conseguir, felizmente, ter a sorte de enveredar pela música. Tive a sorte de conhecer as pessoas certas.
O maestro Pedro Osório é uma pessoa fundamental na sua carreira?
Claro que sim. O Pedro Osório é um génio, é um excelente músico, é um grande amigo. Foi director musical no Casino do Estoril durante muitos anos e é um músico por excelência.
As participações nos Festivais da Eurovisão são marcos que ficam na sua carreira. Teve a oportunidade de participar mais de que uma vez. Acha que Portugal alguma vez vai conseguir ganhar esse Festival? Depois de ter apresentado tão boas vozes, como foi o caso da Rita Guerra?
Eu já ouvi dizer tanta coisa sobre a Eurovisão… as coisas que eu ouvi foram todas muito feias… eu não vou reproduzir porque não o devo fazer… e por isso mesmo, as coisas feias que ouvi, não sobre Portugal, mas sobre a forma como eventualmente é gerido tudo o que rodeia a noite da Eurovisão, por aquilo que eu sei, Portugal nunca vai ganhar.
“As Canções do Século” foi um projecto que ajudou a sua carreira a dar um salto mais visível perante o público?
Sim, sem dúvida. “As Canções do Século” foi um projecto que teve imensa audiência, naquele Festival da Canção, no ano em que ganhou a Anabela. E, a partir daí, começaram a surgir muitos convites e fizemos quase sete anos de espectáculos ao vivo. E, era um espectáculo muito caro, e nem por isso deixaram de contactar e contratar.
Foi extremamente importante. Teve imensa projecção. Houve muita gente a procurar o disco, que não estava gravado. E, depois tivemos oportunidade de fazer um espectáculo ao vivo no Casino do Estoril para ser filmado e gravado e ver, finalmente, o registo que pudesse ser vendido ao público. Este projecto foi encomendado apenas para a noite do Festival e de repente foi um sucesso enorme e acabou por ser um bom trampolim para todos nós.
Durante 21 anos esteve a fazer espectáculos no Casino do Estoril. Foi por opção própria ou entendeu que ali poderia elevar a sua carreira?
O Casino é uma casa maravilhosa, com grandes espectáculos de qualidade, mas tem um público itinerante. Tem um público muito variado e diferente. As pessoas que ali vão, na sua maioria, não vão para ouvir a Rita Guerra. As pessoas vão ali para ver o espectáculo, para ali jantar… e existem muitos grupos estrangeiros que por ali passam.
Obviamente que tem de ser um espectáculo para agradar a todos e não é um espectáculo onde se destaca apenas um cantor ou uma cantora, ou um bailarino ou um solista…
Sendo assim o público nunca era mesmo e o espectáculo sim, era sempre o mesmo durante um ano e meio ou dois anos, porque tinha uma produção muito cara.
Sendo assim, é óbvio, que não é muito criativo para um artista cantar as mesmas coisas todos os dias.
Esta nova fase de espectáculos no exterior acha que é melhor do que estar diariamente no mesmo palco?
É muito melhor do que estar sempre no mesmo palco. Eu acho que não se pode comparar uma situação com a outra, porque são completamente distintas e apenas têm em comum a música.
Agora, chegar ao final deste tempo todo e vir para junto do público e estar ao alcance de toda a gente é muito bom.
Enfrentar o público pelo país fora, e não só, para mim, faz sentido. É maravilhoso ver que realmente tenho um apoio gigante de pessoas que gostam de mim, que gostam das minhas músicas, que gostam do nosso espectáculo e que vão assistir, mesmo que esteja frio ou a chover.
Já dei espectáculos perante vinte mil pessoas, a chover muito, e foi maravilhoso ver as pessoas a assistirem sem arredar pé, mesmo com as más condições do tempo.
Foi a Rita Guerra que entendeu deixar o Casino?
A determinada altura entendi vir embora. Cheguei ao pé do Pedro Osório e disse-lhe que estava na altura de deixar o Casino e ir para os espectáculos no exterior. Ele disse-me: “Como produtor musical do Casino peço-te por tudo que não vás embora. Como amigo, vai-te embora já.”. Portanto, houve uma altura em que realmente senti que deveria ir embora… mas, foi-me pedido para não sair, até porque era uma época muito complicada, porque o Casino ia entrar em obras e o espectáculo ia passar para uma sala muito pequena e precisavam de um nome que tivesse consistência para chamar público. Eu disse que sim, acabei por ficar. Era confortável, onde se tinha trabalho 365 dias por ano.
Quando sai é o momento certo para a continuação da sua carreira?
As coisas aconteceram no tempo certo em que tinham de acontecer. Não acho que saí de lá tarde demais, porque tinha cá fora um público enorme a esperar por mim. Senti que as pessoas não se esqueceram de mim e sinto uma energia e uma vontade enorme de continuar.
O nível de vendas de um CD é fruto de alguém que gosta de um determinado trabalho. Após a sua saída do Casino as vendas dos trabalhos da Rita subiram?
Sem dúvida. Foi uma coisa astronómica. Sabe, estou com 42 anos mas sinto-me uma miúda, com tudo isto.
Recentemente sagrou-se vencedora no “Top Choise Awards”, na categoria de “Top Internacional Female Singer 2009” através da votação da comunidade portuguesa residente no estrangeiro. Como é que surge esse reconhecimento do público português no estrangeiro perante o trabalho da Rita Guerra, mesmo com poucas actuações realizadas fora do país?
Eu penso que é através do conhecimento que a comunidade portuguesa tem do meu trabalho, essencialmente através da televisão, rádio e Internet. Por isso, estou completamente disponível e com muita vontade para cantar ao vivo para os nossos emigrantes, porque eles são, sem dúvida, o exemplo da nossa representação portuguesa no estrangeiro. A eles agradeço muito este prémio que me foi atribuído dois anos seguidos.
Está agora a promover o CD “Luar”. De todos os trabalhos que editou qual foi o que lhe deu o verdadeiro impulso para a promoção da sua carreira perante o público?
Eu estou a promover o “Luar” que é um trabalho mais acústico e por ter outros compositores. Mas, o mais importante, que foi o que marcou a viragem para a fase em que eu estou agora, foi o “Rita”. Foi importante a vários níveis e foi uma pedra muito rija que ficou ali no meu caminho. Foi um marco muito grande e um ponto de viragem na minha carreira. Os outros trabalhos foram sempre diferentes uns dos outros, acreditei sempre naquilo que fiz, embora, pensando hoje, teria feito algumas coisas diferentes, mas isso faz parte do percurso… se eu soubesse o que sei hoje…
Eu vou continuar a fazer aquilo em que acredito e enquanto os trabalhos futuros não estiverem como eu quero, não sai nenhum. Portanto, eu continuarei, sempre, a pautar do crédito daquilo que faço, com qualidade e trabalho.
Adélio Amaro
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