quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cancioneiro da Região de Leiria

Depois de preservadas e agora publicadas as recolhas efectuadas por António Oleiro e Manuel Artur Santos, entende a Direcção do Rancho da Região de Leiria, estar assim cumprida mais uma etapa do seu percurso folclórico.
Este espólio da cultura popular da região de Leiria na vertente lúdica do povo de então, que agora vem a público em formato de livro, só foi possível com o esforço da Direcção e da abnegada e altruísta colaboração da Fundação da Caixa Agrícola de Leiria, à qual se agradece na pessoa do seu Presidente Mário Matias, bem como à Folheto Edições & Design, que empregou todo o seu saber e reconhecido profissionalismo.
Aqui irão ficar preservadas 342 modas recolhidas em 1960 nos concelhos que à data constituíam a Comissão Regional de Turismo de Leiria, presidida por Ruy Acácio. A saber: Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal, Porto de Mós e Vila Nova de Ourém. Também aqui cabe uma palavra de gratidão pelo empenho e persistência que ao longo de vários anos o Maestro Vicente Narciso com o seu abalizado saber, colocou ao serviço deste fenómeno que é o folclore.
Foram calcorreados lugares e lugarejos, carreiros e veredas, vales e montes, praias e serranias. Ouviu-se a musicalidade dos riachos e a suavidade dos salões nobres. Bailou-se nas eiras e no pinhal d’El Rei, no adro da Igreja ou nos caminhos das romarias…
Nada é inédito do que aqui fica divulgado. Tal como nos ensinou Manuel Artur Santos, a partilha e dádiva, para além da entrega que ao longo dos anos tem sido feita a muitos Ranchos, é sinónimo “do dever cumprido” e da entrega a todos quanto procuraram junto deste conceituado folclorista.
Do etno-musicólogo António Oleiro a presente obra fala por si… porém, havia que “vestir” as modas recolhidas nos mais recônditos lugares visitados.
Manuel Artur Santos homem humilde, ético e de sensibilidade de fino recorte, trouxe na bagagem das recolhas os usos e costumes das gentes dos finais do séc. XIX e primeiros anos do séc. XX na região de Leiria, e que descreveu nos Anais do Município de Leiria, da autoria de João Cabral do seguinte modo:
“As mulheres usavam chapelinho de veludo preto com penas coloridas, lenço na cabeça, blusas de cores variadas, sendo algumas arrendadas, saias de várias cores e qualidades, desde a estamenha, armur, riscadilho e tecidos de lã, que lhes davam um aspecto harmonioso e garrido.
Algumas, em substituição das meias, usavam canos de lã grossa, e calçado de atanado ou tamancos, conforme os costumes das terras que representavam.
Atendendo a antigas tradições, as mulheres tinham ainda como ornamento, aventais bordados com rendas e entremeios, saca de mão de harmoniosos retalhos, por vezes bordados, algibeiras de cintura muito vistosas, outras usavam xaile ou capoteiras nos ombros e, ainda saia de cobrir ou seja, saia de costas.
Quanto aos homens, usavam barrete preto com borla da mesma cor ou chapéu na cabeça, camisa de linho ou riscado com entremeios ou peitilho, colete, jaleca e calça justa à boca-de-sino, de surro beco preto ou castanho, cinta de cetim ou de lã preta, botas de atanado ou atacador e ainda de tamancos conforme o extracto social que representavam.
Os homens, por vezes faziam-se acompanhar de alforge, cajado, cabaça, guarda-chuva, e no caso da noiva, um lenço bordado com o monograma do noivo e oferecido a este, e ainda várias alfaias agrícolas, etc.”
Ao ser publicado este Cancioneiro da Região de Leiria, terá quer ser chamado para a galeria dos notáveis que tornaram possível a recolha, preservação e divulgação deste património imaterial que serve o folclore da região de Leiria e não só, o folclorista Manuel Artur Santos, que há cinquenta anos se entregou desinteressadamente à causa da cultura popular portuguesa – o Folclore.
A Direcção do Rancho da Região de Leiria ao devolver ao povo este legado único que homenageia os nossos antepassados desta vasta região, sente concluir assim uma missão que sempre norteou este Rancho, ou seja, a abertura a todos quantos o desejem, contribuindo para a divulgação do conhecimento e engrandecimento da história do povo da região de Leiria.
A Direcção do Rancho da Região de Leiria

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