(Cont.) Todavia, este projecto de reconhecimento nasce sob os auspícios da Sociedade de Geografia de Lisboa, fundada pelo escritor, historiador e geógrafo Luciano Baptista Cordeiro de Sousa, a 10 de Novembro de 1875, com um grupo de 74 subscritores que requereu ao rei D. Luís a criação desta Sociedade tendo como missão promover o estudo das ciências geográficas e correlativas no país.
É de salientar, entre os subscritores, alguns nomes que deixaram o seu cunho bem vincado na História de Portugal: António Enes, Eduardo Coelho, Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, Sousa Martins, Cândido de Figueiredo, António Lino Netto e Teófilo Braga. Este último, também natural de Ponta Delgada (São Miguel, Açores), foi o segundo Presidente da República Portuguesa.
Entre conferências, prelecções, cursos livres, concursos e congressos científicos promovidos pela Sociedade, esta cria a “Comissão Nacional Portuguesa de Exploração e Civilização da África”, conhecida por “Comissão de África”.
A Sociedade de Geografia de Lisboa nasce com a necessidade de fortalecer os laços e o interesse pelas terras africanas.
Portugal vivia uma época quente, no que concerne à exploração africana, essencialmente na região que foi denominada de “Mapa Cor-de-rosa”.
A preocupação de Portugal em se impor em terras africanas aumenta com a Conferência de Berlim realizada em 1884 e 1885.
Os países europeus começavam a promover, através de sociedades de geografia, uma política de exploração geográfica com especial destaque para territórios africanos.
Países como a Alemanha, a Bélgica, a Espanha, a França e mesmo a Itália, que nunca se interessaram pela exploração africana, começaram a cobiçar aquele Continente quando entenderam a força que poderia dar a riqueza existente no mesmo.
A Sociedade de Geografia em Portugal nasce tarde, a 10 de Novembro de 1875, visto que a maioria das sociedades de geografia europeias tinham nascido no início do século XIX, tendo desde o início, começado por desenvolver trabalhos de exploração, tanto geográfica como científica.
É óbvio que estas explorações começaram a chamar a atenção dos poderes políticos para a mais-valia da possibilidade económica que daquele Continente poderia advir. É com esse objectivo que a Sociedade promove a sua primeira expedição com Serpa Pinto, Hermenegildo Capello e Roberto Ivens, apostando na exploração do rio Cuango, a região das origens dos rios Zambeze e Cunene, assim como a
das bacias hidrográficas do Cuanza e do Cuango.
A famosa viagem “De Benguela às Terras de Iaca” teve início a 7 de Julho de 1877, tendo esta sido o patamar que fez de Roberto Ivens e de Hermenegildo Capello verdadeiros heróis. Após o trajecto Benguela – Bié, divergências entre Serpa Pinto e Hermenegildo Capello fazem com que a expedição seja dividida. Serpa Pinto, por iniciativa própria, entende fazer outro percurso, tendo este sido um fracasso. Contudo, Serpa Pinto chega a Pretória e mais tarde a Durban.
Enquanto isso, Ivens e Capello seguiram o projecto que haviam delineado inicialmente, isto é, não desviar a atenção para as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Entre Benguela e as Terras de Iaca delimitaram os cursos dos rios Cubango, Luando e Tohicapa.
Após missão cumprida, Ivens e Capello são recebidos a 1 de Março de 1880, em Lisboa, como autênticos heróis.
Roberto Ivens recebe a Comenda da Ordem Militar de Santiago e é nomeado, a 19 de Agosto de 1880, vogal da Comissão Central de Geografia. Por Decreto de 19 de Janeiro de 1882, foram-lhe concedidas honras de Oficial às Ordens e a 28 de Julho foi nomeado para proceder à organização da Carta Geográfica de Angola.
Em 19 de Abril de 1883, pelas mãos de Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, Ministro de Marinha e do Ultramar, ambos os exploradores são nomeados vogais da Comissão de Cartografia. (Cont.).
Fotografia - Escola Básica Roberto Ivens, Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores
Adélio Amaro
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